Seminário da Reposição Automotiva destaca como a IA pode ser eficaz em um mercado com diversificação de produtos para atender a frota de veículos
A 30ª edição do Seminário da Reposição Automotiva, realizada, no dia 15 de outubro, em São Paulo-SP, na Fiesp, reuniu representantes de entidades do setor da reposição, além de profissionais de todos os elos da cadeia: fabricantes, distribuidores, varejos e oficinas. As apresentações de especialistas e a realização de painéis destacaram as principais questões do mercado que envolvem o uso de Inteligência Artificial em várias áreas das empresas, inclusive para previsão de demanda e gestão do estoque cada vez mais diversificado para atender a frota de veículos muito pulverizada com crescimento expressivo da cauda longa que exige das empresas um grande esforço para ter muita variedade de peças para atender as oficinas. Um verdadeiro desafio para distribuidores e varejos devido à enorme quantidade de veículos que somam 2.400 modelos e 15.699 versões, segundo dados da Fraga Inteligência Automotiva. A reparação vive um momento em que a falta de acesso às informações de dados para manutenção dos veículos gera um grande entrave nas oficinas que precisam buscar meios para obter softwares que sejam compatíveis para poderem programar módulos e passar o scanner para verificar o problema que o veículo apresenta. A solução é, que assim como outros países, o Brasil tenha legislação que dê ao consumidor a livre escolha do direito de reparação de seu veículo. As entidades destacaram como o movimento Right to Repair vem evoluindo para sanar essa problemática que afeta o mercado e o dono do carro.
Perspectivas são positivas para indústria automotiva no Brasil
Apesar de o cenário ser de muitas mudanças, a indústria automotiva deve crescer em 2024 e 2025, estimuladas pelo pujante mercado de reposição e com os veículos a combustão flex e híbridos. A frota de veículos elétricos puros não será significativa nos próximos anos. Esta foi a mensagem deixada por Claudio Sahad, presidente do Sindipeças, em sua palestra. “O movimento disruptivo que atinge toda a cadeia automotiva, de multinacionais a empresas de pequeno porte, traz desafios estruturais crescentes, mas também oferece muitas oportunidades para o desenvolvimento da indústria automotiva no Brasil”, afirmou Claudio Sahad, presidente do Sindipeças. Entre os desafios, citou a indústria 4.0, descarbonização, veículos elétricos e outras mobilidades sustentáveis, novos combustíveis, digitalização e Inteligência Artificial (IA), novos modelos de negócios, diversidade e a flexibilidade nas empresas e integração competitiva às cadeias globais. No entanto, segundo Sahad, as oportunidades surgem devido à desorganização das cadeias de fornecimento global decorrente da pandemia, do conflito no Leste Europeu e no Oriente Médio. Mas, é preciso que as empresas estabelecidas no país estejam preparadas e num ambiente de negócios amigável para competir. “As reformas estruturais e a redução do custo Brasil têm papel decisivo”, comentou.
Durante a palestra, destacou também que a matriz energética brasileira conta com fontes renováveis mais limpas que outros países, entre eles, o etanol, representando um diferencial competitivo. No Brasil, 47,4% são fontes de energias renováveis, enquanto no mundo, esse percentual chega somente a 14,7%, representando uma vantagem para o país na jornada da descarbonização. “É preciso estimular o abastecimento dos 80% da frota de veículos flex com etanol para ampliar a escala de produção desse combustível”, disse. Já sobre os veículos elétricos e híbridos ressaltou que depende de escala e é necessário estruturar a cadeia. Mas, que à medida que a produção e vendas avançarem, fabricantes de autopeças estarão organizados para atender as OEMs. Sobre as políticas para os veículos elétricos precisam contemplar redução da burocracia para instalação de unidades fabris, linhas de financiamento para essa finalidade e qualificação da mão de obra.
Para ele, a eletrificação pura não será opção para todos os países. “Brasil, Índia, sudeste e sul da Ásia, Oriente Médio África e América Latina utilizarão motores a combustão por mais tempo”, completou Sahad, enfatizando que o Brasil terá o convívio de muitas tecnologias por muitos anos ainda, podendo ser, inclusive, polo de motor a combustão e atender esses mercados com exportações de veículos flex ou híbridos a etanol. Citou também o programa Mover, quando falou que algumas montadoras e sistemistas já anunciaram investimentos na transferência de ferramentais e linhas da Europa e outras regiões para fabricação de motores e sistemas para combustão no Brasil.
Ao final de sua apresentação, falou sobre as perspectivas da indústria de autopeças brasileira. Em 2024, deve alcançar faturamento de R$ 259,1 bilhões, com alta de 8% e, em 2025, R$ 269,5 bilhões, num crescimento de 4%. Desses totais, o canal da reposição participará com 22% ou R$ 57 bilhões neste ano e 22,6% ou R$ 60 bilhões em 2025. Sobre os investimentos, a previsão é de R$ 6,2 bilhões para 2024 e de R$ 6,3 bilhões para 2025. “O mercado de reposição vem crescendo significativamente e deve continuar, pois as vendas de carros novos não devem aumentar tão cedo”, concluiu o presidente da entidade, destacando que o setor deve se preparar, fazendo as mudanças necessárias para quando esse cenário for alterado.”
Inteligência Artificial não é algo de agora, mas uma evolução constante presente na indústria automotiva
Muitas expectativas estão sendo criadas com as novas ferramentas da Inteligência Artificial, o mundo todo está voltado para essa tecnologia que se tornou a grande sensação do momento. De fato, é disruptivo, contudo Fernando Moreira, fundador da 10X BlockInnovation, executivo com mais de 30 anos de experiência em empresas multinacionais, em mercados altamente competitivos no Brasil, EUA, Canadá, Ásia, América Latina e Caribe, com experiência em transformações de negócios e inovação tecnológica, comentou o que estamos vendo com a IA não é novidade na indústria automobilística e no mercado de reposição.
Em sua apresentação, Moreira lembrou que, no ano 2000, os veículos começaram a sair de fábrica com assistente de direção. Na Fórmula 1, surgiram os painéis eletrônicos para indicar a troca de pneus. “Em 2010, os veículos já tinham mais de 100 peças com informação digital que necessitam de leitura por scanner. De lá pra cá, tudo isso evoluiu com uma velocidade muito grande. Hoje, a Inteligência Generativa já permite ter o desenho do automóvel antes mesmo de ser criado um protótipo físico”, apontou.
Com essa evolução tecnológica, na visão do empresário, o veículo deixou de ser um meio de transporte para se tornar um meio de entretenimento e cada vez mais conectado, permitindo interações com internet, acesso a aplicativos e peças inteligentes que indicam quando é o momento de fazer manutenção preditiva.
Falando dos outros elos da cadeia, Moreira destacou que as oficinas precisam estar conectadas aos veículos. “Todos os carros serão computadores e não importa a motorização, o fato é que estarão cada vez mais com comandos e soluções digitais. A Inteligência Artificial está revolucionando os modelos de negócios. O ideal é que exista uma plataforma para unir os elos da cadeia para que todos estejam inseridos nesse processo tecnológico, possibilitando obter dados de frota, peças e consumo”, contou.
Moreira destacou também que o mercado de reposição continuará crescendo, e que a aplicação de IA nos negócios permite potencializar o desenvolvimento da empresa porque agiliza a análise de dados para entender os cenários e viabilizar, ter previsão de demanda mais assertiva e ágil, fatores importantes para a tomada de decisão. Ele explicou, por exemplo, que um call center pode ser substituído por IA, imperceptível ao consumidor e eficaz porque o robô trabalha sete dias por semana e os atendentes passam a cuidar da IA.
Na parte logística, a IA permite otimizar rotas e reduzir o tempo de entrega. “Em muitas situações, em se tratando de velocidade de informação, a IA agiliza a compilação de dados que feita pelos seres humanos poderia levar muito mais tempo”, revelou Moreira, que ressaltou que para funcionar a ferramenta necessita de interação humana para fazer as perguntas corretas.
Por meio de realidade aumentada é possível treinar mecânicos. O aplicativo Chatbot de assistência virtual que vem nos veículos já permite que o dono do carro faça o agendamento para manutenção, sem nenhuma interação humana.
A oficina pode também aumentar o movimento com o auxílio do Google para estudar a população do bairro e conhecer a frota. Na sua visão, a IA é uma ferramenta que acelera o crescimento. Na China, ele fez um trabalho em uma empresa de seguro financeiro e crédito para aumentar a demanda. Foi analisando dados de perfis das famílias que saiu de uma carteira de 9 milhões de clientes para 16 milhões, dobrando os resultados de US$ 400 milhões de dólares para US$ 800 milhões.
IA é fundamental para a indústria automotiva, mas ser humano faz a diferença na tomada de decisão
A Inteligência Artificial é aplicada em muitos países há muitos anos. Os Estados Unidos e a Europa estão mais evoluídos, tanto na indústria como no varejo e serviços. No Brasil, o uso da IA tem evoluído, mas deve demorar mais para a maturação. Para os debatedores que participaram do painel da indústria, que teve como tema “Uso da Inteligência Artificial no Setor Automotivo”, a IA ajuda no dia a dia em diversos aspectos, a acelerar processos, na gestão, na tomada de decisão, na logística, na conexão com a cadeia, entre outras atividades, mas é o ser humano que toma a decisão final. “Ela ajuda a prever o futuro em diversos aspectos, como por exemplo, no trabalho com transportadores, para saber o nível de abastecimento, entre outros. É importante também não só para conectar a cadeia de distribuição com ganhos relevantes, mas também na atuação com frota, peças e consumo. No entanto, a análise humana ainda é fundamental, pois a IA apresenta a resposta rapidamente, mas nem sempre correta”, acrescentou Perci Albergaria, gerente nacional de vendas para o mercado de reposição da Elring Klinger, quando questionado sobre o tema pelo âncora Adalberto Piotto. Para ele, a IA está em fase de adaptação no país. “Estamos aprendendo a cada dia, deve demorar um pouco para a maturação. Na empresa, usamos a tecnologia em MRP (Manufacturing Resource Planning), na gestão de materiais e recursos da produção, entre outras iniciativas”, exemplificou.
Marco de Luca, diretor geral da operação de aftermarket para América do Sul da Valeo, também concorda com Abergaria: “A IA não vai resolver os problemas, mas auxiliará na eficiência, análise de dados para que o ser humano tome a melhor decisão. É um grande erro achar que, exclusivamente, a IA trará as respostas. Ela é uma ferramenta de automatização de tarefas, acelera processos. Mas, é o ser humano que toma a decisão. A junção dos dois é benéfica, mas são as pessoas que fazem a diferença no dia a dia”, ressaltou. Profissionalmente, disse que essa tecnologia ajuda bastante na gestão de dados, entendimento de dados históricos, na tomada de decisão, na compilação de dados passados com o futuro, perfil de vendas, para apresentar melhor previsão da demanda. Segundo Luca, é um departamento estratégico da gestão e um instrumento para os profissionais serem mais produtivos, traz muito valor ao negócio, na redução do custo logístico e na personalização do atendimento e nos serviços. “Melhorou em 12% a entrega na Valeo”, enumerou.
Enfatizou que a IA não vai tomar a decisão pelo ser humano, não vai prever mudanças políticas, regulamentações, mas pode desenhar cenários rapidamente. “É o cérebro humano que vai ser decisivo, tomar a decisão e escolher um dos cenários.” Além disso, as novas tecnologias disruptivas, como a IA, precisam vir acompanhadas de mudanças de cultura, regulamentação e estrutura.
Durante o debate, Luciano Matozo, diretor de engenharia e vendas OEM Frasle Mobility, destacou que, na indústria, há pessoas empolgadas com o uso da IA e as empresas devem criar um ambiente para tornar os profissionais mais produtivos, a infraestrutura é importante e os dados devem ter qualidade para alcançar bons resultados com a tecnologia. “A indústria pode prever propriedades mecânicas, por exemplo. Na reposição, pode ajudar com os estoques, prever a demanda dos tipos de peças. A IA tem capacidade para fazer isto com nível de precisão, mas não consegue prever algumas variáveis, como mudanças de alíquotas, decisões políticas, novas regulamentações, que podem mudar totalmente um cenário. Ela auxiliará a desenvolver novos produtos, melhorar atendimento e serviços, e chegará também em análises mais rápidas”, alertou Matozo.
Diversificação de peças para veículos com pouca saída é um desafio para a reposição
Muito diferente de quando Danilo Fraga, CEO da Fraga Inteligência Automotiva, ia com o avô de Kombi visitar as lojas de autopeças, quando existiam poucas montadoras e modelos de veículos na década de 80, o mercado vive um outro cenário com a pulverização da frota. “Enquanto na década de 90 havia 500 modelos e 1.225 versões, hoje temos 2.400 nomes de carros diferentes com 15.699 versões”, explicou.
O mercado está muito mais diversificado, com tendência de aumento da cauda longa e a perspectiva que essa condição se acentue. “A previsão é que em 2030 veículos com menos volume representarão 44% da frota ao passo que os mais vendidos, curva A e B, só corresponderão a 25%. Uma mudança que mexe com os negócios na reposição”, advertiu o CEO.
A pesquisa indica que os estoques serão cada vez mais diversificados e o investimento das empresas aumentará para atender a frota. O impacto, segundo Fraga, é direto na parte mais sensível que é a financeira em uma empresa. “Grandes players da distribuição têm em cada filial R$ 26 milhões em estoque e isso deverá aumentar para R$ 28 milhões, enquanto os atacarejos passaram de R$ 11 milhões para R$ 12 milhões e os varejos de R$ 2 milhões para R$ 2,2 milhões”, apontou.
Esse aumento de capital em estoque será necessário para abastecer o mercado com frota diversificada e à medida que essa transformação avança provoca a perda de rentabilidade das empresas. Ainda assim não é suficiente para que o estoque esteja 100% abastecido, sempre haverá falta de algum item.
Outro ponto que Fraga destaca da pesquisa é com relação aos modelos de veículos que estão ganhando mais mercado, como os SUVs e devem representar 25% da frota em 2030. Já os veículos hatchs de entrada, vão diminuir de quantidade. Ao comparar os preços das peças dos dois tipos de veículos, o CEO revelou que há muita disparidade no preço na cesta que compõe os principais produtos. O filtro de ar de um SUV é 67% superior ao de um carro de entrada, no caso de discos de freio a diferença chega a 94%, amortecedor 30% e pastilha de freio 23%.
Fraga diz que existem três modelos de precificação de produtos: markup, seguir o que a concorrência aplica e o mais adequado, na sua opinião, é o baseado na capacidade do consumidor, que é o dono do carro, por meio de dados de uma forma coordenada. “É necessário considerar a idade média de aplicação das peças, preço médio dos veículos e usar a ferramenta de IA com algoritmos avançados de análise de preços. Margens de 10% não sustentam a saúde financeira do negócio”, acrescentou.
O mercado de reposição cresce mais de 10% na ponta sem inflação e representa R$ 105 bilhões e cada estado tem a sua relevância, mas Fraga faz uma provocação com plateia dizendo: “Quanto desse bolo cada um de vocês tem de participação?”
Com informação e dados, a empresa consegue estabelecer preços de portfólio, ter previsão de demanda e esse trabalho já existe na Fraga desde 1990. “É necessário estimular a cultura data-driven para tomada de decisões diante de um cenário dinâmico”, recomendou.
A pulverização da frota de veículos vem transformando o mercado e os grandes players da distribuição estão lançando marcas próprias e o ambiente de negócios, de acordo com Fraga, se torna cada vez mais desafiador.
Visão geral da economia para os negócios
Tomé Abduch, deputado estadual do partido Republicanos, participa pela segunda vez do Seminário da Reposição Automotiva, e apresentou um pouco do cenário político, o comportamento da macroeconomia e a situação do Brasil. Ele comentou que vários fatores trazem preocupação aos empreendedores e investidores, como conflitos geopolíticos, inflação alta, crise sistêmica de crédito, bolha da inteligência artificial e eleição nos Estados Unidos. “Há grandes incertezas neste momento: para onde vai o mundo, oscilação do dólar, a China começa uma recuperação lenta, mas ainda tem recessão.” Com todo esse cenário mundial, Abduch disse que a previsão do PIB no Brasil para 2024 é 2,9% ou até 2,5% e a Selic 13% acima do que é hoje 11%. “Existe uma preocupação dos grandes investidores com os gastos públicos do governo brasileiro, com os déficits públicos, além da insegurança jurídica do país. “O auxílio durante a pandemia de R$ 600,00 que era para ser temporário se tornou permanente e o governo não consegue fechar as contas. É um modelo insustentável, situação bem diferente na China, onde o governo injetou US$ 300 bilhões na economia para chineses que ainda vivem em extrema pobreza”, frisou.
A China é o maior comprador do Brasil de carne, soja, minério e muitas outras commodities e quanto mais se exporta, o dólar cai.
Abduch também disse que se preocupa com a questão de o governo aumentar as taxações com impostos de grandes riquezas, medida que já foi revogada na França e outros países desenvolvido por ser ineficiente e que no Brasil os efeitos podem ser muito prejudiciais, uma vez é o sexto país que mais recebe investimentos externos, gerando empregos e oportunidades à população. Destacou também que são os empresários que geram valor e que desenvolvem o país e se colocou à disposição do setor para o que for necessário.
Tecnologia pode auxiliar no desafio da variedade de peças na distribuição
O setor de distribuição de autopeças enfrenta alguns desafios no Brasil. A diversidade de modelos e versões de veículos e, consequentemente, de peças, é uma das dificuldades enfrentadas pelos distribuidores. Mas, a tecnologia e a IA podem ajudar em vários processos, como a levar a peça certa no tempo certo e a identificação por radiofrequência (RFID), que agiliza o recebimento, conferência e envio dos componentes. “O volume e variedade de estoque são problemas inerentes no negócio de distribuição de autopeças, requer sempre mais investimentos e espaço maior. Ou você aprende a lidar com isto ou está fora do mercado”, considerou Joaquim Alberto da Silva Leal, CEO da Medauto, no painel distribuição, mediado pelo jornalista Adalberto Piotto. Para Leal, a diversidade de peças crescerá ainda mais devido à variedade de modelos e versões. Em 1990, era necessário cerca de 10 mil SKUs (unidade de manutenção de estoque) para atender a frota. Hoje, há necessidade de 10 vezes mais. Ninguém quer carregar estoque, mas é necessário para a sobrevivência. O investimento é elevado e há muitos problemas devido a essa diversificação. Com a evolução da diversificação de produtos, o aftermarket é obrigado a ter mais trabalho, mais investimento em tecnologias e IA.
“A IA deveria estar dentro da empresa para atender a saída de peças do estoque e a substituição por uma nova. Mas, sou eu que tenho de colocar os pedidos na fábrica. Se a fábrica identificar que eu vendi um amortecedor seria mais fácil prever a demanda. Mas, estamos longe ainda deste caminho”, comentou.
Com relação aos veículos elétricos disse que, para produzir carros a combustão, há necessidade de 20 mil componentes, um carro eletrificado, cerca de 2 mil peças. “O aftermarket afundaria. Do posto ao poço, o carro elétrico polui mais que o etanol. Se polui mais não é bom para o Brasil. Já o híbrido é o modelo mais ideal, com menor consumo de combustível, facilidade para viajar. Esta deverá ser a solução brasileira”, enfatizou.
Luis Fernando Hartner, diretor de demanda e experiência com o cliente da Takao, também acredita que o maior desafio é o aumento do número de itens. Para a indústria, há a questão da disponibilidade, ou seja, levar aos distribuidores o que precisam na velocidade adequada com tanta diversidade. Na opinião dele, a tecnologia e o entendimento dos dados são necessários para levarem os produtos no tempo certo.
Com relação aos veículos elétricos disse que o Brasil tem problemas com infraestrutura, é um país continental, há também a depreciação dos carros eletrificados, maior do que os a combustão. Segundo Hartner, estudos mostram que a frota de veículos híbridos crescerá e os distribuidores precisarão garantir estoque para atender a demanda. Destacou também a importância do e-commerce que cresce cada vez mais, bem como da inteligência de mercado e dos dados em conjunto para atender a distribuição e a logística.
Otimista, Sérgio Milanez, sócio-administrador da empresa Rufato, disse que o problema é vender, o restante se acha a solução. “Temos pessoas, processos e sistemas não há como não evoluir. A tecnologia ajuda muito. O RFID, identificação por radiofrequência, por exemplo, ajudou a acelerar demais o processo”, comentou. Com a ajuda da tecnologia e das pessoas, na pandemia, conseguiu importar três vezes mais para não faltar peças, só depois de investir veio a demanda.
Sobre os veículos elétricos ressaltou que ainda vai levar muito tempo para avançar no Brasil. “O elétrico 100% não veio para ficar no País”, finalizou.
Com variedade de peças, varejo enfrenta desafio de gerir estoque
O mercado mudou muito desde quando Luiz Galhardo, hoje, CEO da Auto Peças Gisela, iniciou no setor, há 31 anos. Para ele, não dá para ser tão generalista e atuar com peças, acessórios e lataria devido ao grande aumento de marcas e modelos na frota circulante brasileira. É um desafio gerir estoque e fazer a previsão da demanda. Focado somente em componentes mecânicos, Galhardo ressaltou, no entanto, que é impossível evoluir vivendo do “retira”. “Por isso, é fundamental também entender a região de atuação, buscar novos conhecimentos, ter boas parcerias com fornecedores e investir em sistemas de previsão de compras e vendas para fazer com que a loja cresça, bem como ter consultoria para a loja física e o e-commerce para ajudar na gestão”, informou Galhardo, no painel do varejo, que abordou o tema Expansão de Marcas e Modelos na Frota Circulante – Desafios para os Varejistas.
O empresário destacou também durante o debate a dificuldade de encontrar profissionais qualificados para trabalhar no varejo de autopeças. “Grande parte deles a faculdade é feita no dia a dia”, disse. Sobre a tecnologia, disse que traz diversos benefícios ao varejo.
Neno Oliveira, CEO da Go!Mec Auto Peças, prefere ser generalista. “É mais fácil trazer de volta um cliente que você já comprou na loja, que você já conquistou, do que investir tempo para conquistar outro. O retorno é melhor”, disse Oliveira, explicando que não tem estoque grande, é enxuto, mas pulverizado.
Quando questionado pelo âncora Marcelo Gabriel, diretor de desenvolvimento de negócios da Latin America for Business – LA4B, sobre as concessionárias, disse que não as têm como concorrentes e sim como mais um canal de vendas, pois, no caso deles, não há proximidade com os clientes.
Durante o debate, Matheus Dias, CEO da Método Auto Peças Elite Consultoria, destacou a importância da profissionalização do varejo de autopeças, da necessidade de os empresários do setor terem especial atenção com a carteira de clientes, bem como os dados relacionados aos clientes, sob risco de entregar de mão beijada a loja para terceiros. “Como consultor, elaboro toda estratégia de compra para reduzir a operação ‘retira’, que é caríssima”, disse Dias, apontando um dos serviços da consultoria.
Impacto da tecnologia na reparação dos veículos
O painel da reparação abordou as dificuldades do setor com as tecnologias que geram barreiras ao acesso de informação de dados dos veículos para realizar a manutenção. Com sensores e módulos, uma simples troca de lanterna pode fazer com que a seta não funcione e precise apagar o código de erro com scanner para reprogramar, conforme destacou Pedro Luiz Scopino, professor especialista em manutenção automotiva e proprietário da Scopino Auto Club. Tudo está interligado e os reparadores sofrem por não terem os dados e programas necessários para fazer essas operações nas oficinas. Ficam reféns das montadoras.
O presidente do Sindirepa-SP, Sindirepa Brasil e dono da oficina Dimas Reparadora, que foi mediador do painel, falou da dificuldade que vive em seu próprio negócio com essa parte eletrônica. “Chegou um carro na oficina com o problema no ADAS (sistema avançado de assistência ao motorista), que havia sido condenado pela concessionária e foi calibrado e voltou a funcionar”, citou.
Ricardo Cramer, diretor do Sindirepa-SP e proprietário da oficina Aires & Filhos, exemplificou sobre a chave k-lock que bloqueou e precisou esperar 60 dias para a chave chegar da Alemanha e depois programar na concessionária”, revelou.
Cramer tem um software que paga mensalidade para ter o maior número de informações para poder fazer a reparação dos veículos em sua oficina. “Manobrar sem para-choque pode perder a informação do módulo de injeção que custa muito caro. São problemas que acabam prejudicando o consumidor e as montadoras precisavam ter um outro olhar para essas questões”, contou Cramer, ressaltando que para ter acesso às informações de carros precisa fazer cadastro na matriz lá fora e pagar um valor mensal para habilitar o scanner.
Scopino revelou que mesmo quando é realizada a revisão do veículo em uma oficina, se não tiver equipamento homologado pela montadora, a luz no painel indicando inspeção não apaga.
Direito do consumidor à livre escolha para reparar o veículo
Tanto Fiola, Cramer e Scopino e José Arnaldo Laguna, presidente do Conarem e vice-presidente do Sindirepa-SP, falaram da importância do movimento mundial Right to Repair, do qual o Brasil faz parte para garantir o direito de o consumidor reparar o seu veículo. “Já estamos dando os primeiros passos no Brasil, unir as entidades do setor de reposição para levar a pauta ao Congresso Nacional. Já existe legislação que protege o consumidor nos Estados Unidos, Canadá, Índia, Austrália, entre outros”, garantiu Laguna.
Na Automechanika da Alemanha, Fiola disse que as principais entidades debateram sobre os avanços e necessidade do Right to Repair. “A intenção é multiplicar e partilhar as informações tecnológicas do veículo”, considerou Fiola.
Fiola lembrou da assinatura da Carta de Fortaleza, em 2022, durante a Autop, quando as entidades do setor de reposição assinaram documento para oficializar a criação do movimento Right to Repair que pode acabar com as barreiras de acesso às informações tecnológicas dos veículos, assim como já acontece na Europa. Laguna sugeriu que as oficinas formem redes para reduzir o investimento em software, conseguindo uma negociação melhor. “É importante que o setor esteja unido para defender o Right to Repair e, assim, garantir o futuro dos negócios”, pontuou.
Sobre carros elétricos Fiola e Laguna acreditam que o híbrido é a solução mais viável para o Brasil que tem o etanol, além de hidrogênio do etanol e biodiesel.
O Seminário da Reposição Automotiva, organizado pelo Grupo Photon, teve apoio da ABRAFILTROS, ANDAP, ANFAPE, ASDAP, CONAREM, SICAP, SINCOPEÇAS BRASIL, SINDIPEÇAS e SINDIREPA BRASIL. SAMA, LAGUNA, MATRIX, PELLEGRINO, ROLES, ORBID, REDE PITSTOP foram os patrocinadores Master Exclusive. DPK, ELRING, FRASLE, NAKATA, KS, SCHAEFFLER, SKF, TAKAO, patrocinadores Master, BOSCH, DANA, DELPHI, IQA – Instituto da Qualidade Automotiva, VALEO, WEGA MOTORS, ZF foram patrocinadores Premium. Ações Especiais: Ci-M Auto Parts, Dayco, G&B e NTN