A Ford desenvolve no Brasil um novo composto de borracha para tubulações de veículos que utilizam biodiesel. O material tem características técnicas próprias para esse combustível e sai pela metade do custo do similar importado. Ele foi criado pela área de engenharia de materiais do centro de desenvolvimento do produto da marca no complexo industrial de Camaçari, na Bahia, e já gerou duas patentes nos Estados Unidos, estando também em processo de registro no Brasil, na China e na Europa.
Desde 2008, a legislação brasileira determina que carros e caminhões a diesel sejam validados para o uso do biodiesel, adicionado inicialmente na proporção de 5%. Em 2018, a mistura passou a ser de 10%, com previsão de aumentar para 15%, o chamado B15.
Como principais vantagens, além de ser uma energia renovável o biodiesel possui alto ponto de fulgor, o que torna o manuseio e o armazenamento mais seguros, e tem excelente lubricidade. Para o seu uso, foi preciso alterar o material das mangueiras e vedações que ligam o bocal de abastecimento ao tanque de combustível. Essas peças passaram a ser fabricadas com borracha nitrílica hidrogenada (HNBR), importada, que possui maior resistência química mas tem um alto custo.
“As peças que têm contato com o biodiesel S10 não podem ter acúmulo de carga eletroestática, devido à baixa condutividade desse combustível, o que pode gerar eventuais faíscas em períodos de menor umidade e comprometer a segurança veicular”, explica Cristiano Hubert, especialista em polímeros e elastômeros do time de Engenharia de Materiais da Ford. “As peças de borracha HNBR importadas possuem a propriedade de dissipar as cargas elétricas, mas são cinco vezes mais caras que as convencionais.”
Em 2017, a área começou a pesquisar materiais alternativos e desenvolveu o novo composto de borracha, o PVC/NBR condutivo, que atende às características desejadas com menor custo. Esse trabalho rendeu ao time três premiações internas de inovação da Ford. Uma das fórmulas patenteadas tem como componente o grafeno. Outra usa a sílica obtida a partir da cinza de casca de arroz, material renovável que atua como reforço mecânico e tem a propriedade de redução do inchamento em contato com o biodiesel.
As primeiras peças feitas com o novo material têm previsão de chegar ao mercado em 2020, na picape Ranger, e também poderão ser licenciadas para outras marcas, inclusive fabricantes de caminhões, que são grandes usuários de diesel. A produção em escala desse material, que é compatível até com o uso de B30, é favorecida também pela abundância de matéria-prima, já que o Brasil é o maior produtor de arroz fora da Ásia.
“Esse projeto também está alinhado ao pilar de sustentabilidade da empresa, tanto pela viabilização do uso do biocombustível como pelo emprego de materiais renováveis e redução de rejeitos, ajudando a construir um mundo melhor”, diz Cristiane Gonçalves, supervisora de Engenharia de Materiais da Ford.