O filtro automotivo para motor a explosão praticamente nasceu na guerra de 1945, devido à necessidade das forças norte-americanas utilizarem os jipes na África para a ocupação inicial da Europa. O motor durava pouco tempo devido ao atrito da areia. “A FRAM e mais outras duas empresas iniciaram a produção de filtros automotivos, o meio filtrante era um tipo de pano parecido com estopa”, explicou Mário Milani, cofundador da FRAM Filtros no Brasil, no “Programa Filtra Ação”, canal de conteúdo online da Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas – Automotivos e Industriais e das revistas Meio Filtrante e TAE, no dia 12 de agosto. Ainda segundo Milani, “Conheci esta história quando encontrei o fundador da FRAM, nos Estados Unidos, e fui pedir licença para produzir o filtro no Brasil. Não consegui, mas ele entrou na sociedade da minha empresa. Aprendi muito com os norte-americanos e adquiri muita experiência ao trabalhar em multinacional”, disse.
A estamparia foi abandonada aos poucos, por insistência de Alexandre Yang, na época vice-presidente industrial. Na ocasião, os maiores produtores de carros eram DKV e Volkswagen, que não tinham filtro de óleo e o filtro de ar era em banho de óleo. “Produzi o primeiro filtro de óleo para a Willys, que informava no manual de instruções para efetuar a troca com 1,5 mil km, uma mina de ouro”, comentou Milani, acrescentando: “Hoje, as trocas chegam até 25 mil km, a depender do veículo”. Já o primeiro filtro de ar sem ser do tipo a óleo, a FRAM produziu para o Galaxie. Depois, a empresa foi crescendo com a indústria automobilística.
Há 4 anos, com 80 anos, Milani por vontade própria saiu da empresa devido à idade, veio a crise e vários executivos passaram pela FRAM. Atualmente, Milani é tesoureiro e membro do Conselho de Administração do Sindipeças.
Hercules Guilardi, diretor da HGN Assessoria Empresarial e ex-executivo do Grupo IRLEMP, ressaltou a importância de manter a história viva do setor de filtração no Brasil, bem como do papel de Milani, um exemplo de empreendedor.
Com 15 anos, entrou no setor de filtração na Irlemp, que na época produzia ferramentas e alguns outros produtos e só depois, os filtros. Por indicação da ESSO foram aos Estados Unidos para obter licença da Purolator, fabricante de filtros da marca naquele país. No início da década de 50, começaram a fazer os filtros no Brasil. Em 1960, fizeram joint venture com a Purolator. A Irlemp fabricava os filtros que não eram de papel e a Purolator, os filtros de papel e os selados. Para o crescimento da sua carreira, Guilardi decidiu sair da Irlemp e foi para a americana Purolator. “Até que em 1968, compramos a Purolator”, comentou.
Na década de 80, uma empresa americana procurou a Irlemp para fazer distribuição do produto Racor. “Sugerimos fabricar aqui no Brasil e assim fizemos uma joint venture”, disse. Assim, foi introduzido um sistema de filtração não conhecido no País, separação de água do diesel. Após dois anos, a Racor foi comprada pela Parker nos Estados Unidos, que queria comprar a divisão da Racor no Brasil e acabaram adquirindo o grupo Irlemp. Por exigência da Parker, Guilardi permaneceu na empresa. Deveria ficar por 1 ano, mas acabou completando 10 anos na Parker. Hoje, com tanta experiência adquirida em compra e venda de companhias, atua com assessoria empresarial.
Abílio Gurgel, sócio e ex-CEO da TECFIL Filtros, contou que a sua história com o setor de filtração começou ainda com seu avô, que ao perder uma fábrica de óleo, saiu do Ceará e veio para São Paulo vender geradores elétricos e a diesel. Por solicitação dos clientes, que sentiam necessidade dos filtros, comprou uma máquina americana para produzir filtros em 1953. “Depois, começou a fabricar outros filtros e atuar com o aftermarket já com a participação do meu pai, que morreu em 1984”, comentou.
Abílio, que já tinha trabalhado na área de compras e seu irmão Arthur Gurgel, em vendas, assumiram a empresa. Por insistência da mãe, não venderam a companhia. “Colocamos representantes comerciais no Brasil inteiro, investimos em máquinas para a produção e para testar qualidade”, afirmou. Em contrapartida, muitas empresas de filtros foram vendidas e algumas fecharam, assim, o mercado foi passando para Tecfil. “Ficamos praticamente sozinhos na reposição”, destacou Gurgel, acrescentando que também começou a fabricar marca própria. Investiu também em RH e a Tecfil, há mais de 11 anos, está entre as 150 melhores empresas para trabalhar no País. Das 150 é a 31ª. “Chegamos a fabricar 5 milhões de filtros por mês, ou seja, 60 milhões por ano”, explicou. Hoje, Gurgel não está mais com a Tecfil, que foi vendida para H.I.G, empresa de investimento em private equity.
Ao final da apresentação, João Moura, presidente da Abrafiltros, enfatizou que aprendeu muito com Milani e Guilardi, como transparência e respeito, e também trabalhou numa empresa americana, pois Jeffrey Hanson, diretor e presidente da Donaldson do Brasil na época, deu a oportunidade de entrar no mundo dos filtros e de participar das reuniões do Sindipeças. “Participei do Sindipeças, primeiramente no grupo de forecast quando trabalhei na Eaton, e depois na Câmara Setorial de Filtros Automotivos”, disse.
Moura falou ainda que Gurgel também veio para realizar e fez a diferença no mercado. Citou algumas empresas de filtros da década de 60 e 70 – Irlemp, Inpeca, uma empresa em Santo Amaro que tinha licença da Mann, Tecfil e Roma. “Vocês fizeram muito pela indústria de autopeças no Brasil. Tenho vocês como referência”, concluiu.
Segundo o gerente de comunicação e marketing da Abrafiltros, Adriano Bonazio, “o evento foi um primeiro capítulo dessa história de tamanha relevância para o cenário socioeconômico brasileiro. Queremos que mais empresas e profissionais, venham agregar a este processo histórico que merece ser registrado”.
O programa na integra está disponível no Canal TV Filtros no Youtube (www.youtube.com.br/tvfiltros).